Nós, do Coletivo Autônomo de Mulheres
Pretas – ADELINAS –, da grande São Paulo, formado em julho de 2015 por mulheres
pretas e por elas representado por meio de seus fenótipos negros: tonalidades
de pele, texturas de cabelos, diferentes corpos, experiências comuns de
resistências e opressões históricas, somadas às diversidades, às subjetividades
e às especificidades do que é ser Mulher
Negra no sistema capitalista, vimos a público REPUDIAR as declarações da filósofa Djamila Ribeiro nos vídeos publicados em
seu stories, nas redes sociais, no
dia 25 de maio de 2019, em flagrante
ultraje contra a ativista de direitos humanos, Dina Alves, denominando-a de “dinossauro”, de “coisa”, de “pessoa problemática”.
As narrativas expostas nos vídeos se
orientam por um discurso que associa a mulher negra à figura de um animal – no
caso, um dinossauro – , relacionado a elementos patologizantes e sustentado na
ideia de que a mulher não apresenta condições para ser considerada humana, mas
a uma coisa ou à histórica criminalização da mulher como “histérica e
problemática”. Os vídeos propagados e a maledicente comparação a um animal
alastram representações negativas associadas ao corpo negro. Os movimentos
feministas, especialmente o movimento de mulheres negras, dedicou muita vida e
sangue na luta contra a animalização e objetificação das mulheres negras.
Afinal, essa é uma incansável luta que começou com nossas ancestrais. Além
disso, o movimento de mulheres negras luta para ressignificar os estereótipos a
partir da autodefinição e valorização, positivando, inclusive, o adjetivo
“negras”, que passou a identificar as mulheres negras a um sujeito político e
com uma agenda própria.
Há
muito as mulheres negras são as principais vítimas do sistema
capitalista e do Estado. Vivemos num contexto em que somos intensamente
golpeadas, afrontadas, ultrajadas pelo racismo, pelo sexismo, pelo patriarcado.
Em sociedades racializadas e hierarquizadas por classe, raça, gênero e
sexualidade não surpreende assistirmos aos discursos com olhar coisificado
sobre nossos corpos, o que contribui para a manutenção de relações hegemônicas
e da naturalização das violências: doméstica, obstétrica, da cultura do
estupro, das alarmantes taxas de feminicídio (acentuadas pela vitória de Jair
Bolsonaro), da criminalização da maternidade negra, das dinâmicas de punição,
estigmatização, assassinatos provocados por milícias e agentes de segurança
pública e pela existência de um padrão generalizado de vulnerabilidades no
acesso a saúde, habitação, mercado de trabalho, terra, bens materiais e culturais.
A construção de estereótipos
relacionados a animais faz parte de práticas históricas de representações de
identidades para simplificar, anular e desumanizar nossa condição de seres
humanos. A desumanização abre portas à animalização. Um processo que, sem
dúvidas, foi (e é) um instrumento de opressão e dominação de raça visando a
manutenção da ordem e dos privilégios das classes dominantes que se perpetuam
no poder até hoje. O tráfico transatlântico de escravos tinha como pressuposto
transformar negros e negras em coisas, objetos, seres sem alma, animais. Não é
de hoje que se comprova os malefícios dessas construções de estereótipos
racistas ao longo da nossa história e na formação da nossa identidade e
subjetividades. Exemplos não nos faltam: Bertoleza, personagem de Aloizio de
Azevedo, comparada a uma anta; os corriqueiros termos pejorativos de “macacas”,
a criminalização da maternidade negra com o ditado popular “negra é como
coelho: só dá cria”.
Acreditamos no projeto político que
une a luta antirracista/anticapitalista. Sabemos que ativistas autônomas e
independentes são perseguidas por suas pautas radicais na construção de uma
sociedade questionadora de projetos políticos neoliberais e capitalistas. Nossa
pauta tem sido a emancipação das mulheres negras a partir delas mesmas. Somos
plurais, assim como nossas vivências, dores e sorrisos. Nossa militância é
periférica, espaço onde a bala chega mais rápido e aumenta as estatísticas de
violências, opressões, desigualdades. Entendemos que o projeto político do
feminismo negro se desenha nas mais diversas formas. Logo, as discordâncias
políticas constituem o oxigênio do diálogo e do bem viver.
É importante ressaltar que o Coletivo
Adelinas nasceu dessas pautas. E é por isso que todas nós nos sentimos
atingidas pela disseminação de ódio e de estereótipos criminalizadores e
criminalizantes perpetrados contra uma de nossas membras cofundadoras.
Reproduzir estereótipos contra mulheres negras é a explícita manifestação de reprodução
do racismo, do sexismo, do genocídio contra todas nós que lutamos incansável e
tenazmente pelo fim desse ciclo de violência de gênero, raça, sexualidade,
classe, território, espacialidade. É dessa forma que declaramos publicamente
apoio incondicional à nossa irmã Dina Alves: mulher, preta, advogada,
nordestina, retirante que luta contra o terrorismo do Estado e que, desde 2018,
tem recebido ameaças de policiais em decorrência de sua luta e exposição na
defesa intransigente dos Direitos Humanos das mulheres negras.
#ForaBolsonaro
#ForaMoro
#NãoSomosDinossauros
#AdelinaPresente
#MariellePresente
#SomosmulheresNegrasMerecemosRespeito
Coletivo Adelinas,
Julho de 2019
Que juntas possamos unir força para destruir nossos grandes inimigos, que no caso não somos nós, mulheres negras de diferentes traços e etnias. Toda força, asé e amos a Dina Alves
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